Vegetarianismo & veganismo
Cresce a dieta plant based no maior exportador de carne bovina do mundo
O crescimento do vegetarianismo no Brasil tem chamado atenção de outros países. Em dezembro do ano passado, o jornal norte-americano The New York Times destacou que os vegetarianos no país dobraram em um período de 6 anos. Essa mudança no hábito de consumo veio acompanhada de mudanças nas prateleiras dos supermercados, que agora trazem proteínas vegetais, e nos menus dos restaurantes, com crescentes opções criativas sem carne. Os adeptos ao vegetarianismo e ao veganismo no país conhecido pelo número de churrascarias vêm crescendo ano a ano. Muito se diz sobre essas duas dietas, mas antes de qualquer coisa: você sabe a diferença entre elas?
Os veganos, por sua vez, de acordo com a Sociedade Vegana do Reino Unido, tentam excluir ao máximo todas as formas de exploração e crueldade animal, não somente da alimentação, mas em todas as demais áreas do consumo. Por exemplo, os veganos não compram cosméticos testados em animais e roupas com materiais como couro, lã ou qualquer tipo de pele de animal, penugem, seda. Agora que esclarecidas as confusões sobre vegetarianismo e veganismo, vamos à realidade brasileira.
Mito ou verdade?
Para desmistificar muito do que se diz sobre estes estilos de vida, conversamos com a nutricionista Moema Ferro, especialista em nutrição funcional e saúde Ayurveda. Batemos um papo também com a analista de Marketing Marina Botequio para entendermos como iniciou sua dieta vegetariana e como conciliar um estilo de vida fisicamente ativo de maneira intensa com seus hábitos alimentares.
“Depois de uns dias vegetarianos, você se sente mais leve” – VERDADE
Dra. Moema esclarece que depois de dias sem a digestão mais pesada das proteínas animais, o nosso intestino deixa de acumular toxinas, principalmente as putrefacinas e cadaverinas, causando a sensação de leveza do corpo.
Para Marina, os primeiros dias sem carne mudaram positivamente sua disposição e sua relação com o seu corpo – “Foi um alívio, porque eu me sentia disposta, com energia, com vontade de fazer as coisas e até mesmo de treinar depois de ter almoçado, porque isso era uma coisa totalmente inviável para mim antes. Eu não tinha essa disposição, eu sentia um peso depois da refeição e não imaginava que isso poderia ser carne. Esse momento coincidiu com a época que eu estava começando a intensificar o yoga e acabei me envolvendo com esses dois movimentos e entendendo como eu corpo era forte e capaz de fazer tudo que eu queria de uma maneira mais natural”.
“Todo vegetariano tem uma alimentação mais saudável” – MITO
Não é uma alimentação necessariamente saudável . É preciso escolher os alimentos dentro da dieta que suprem as necessidades nutricionais do organismo, explica a nutricionista. Marina conta que começou cortando a carne vermelha e ao sentir o grande impacto em seu corpo, em termos de disposição, funcionamento do organismo e questões intestinais, cortou todas as carnes, menos o peixe. “Até então eu era pescetariana e decidi ir ao meu atual nutricionista para ter um melhor acompanhamento do meu processo alimentar. Aos poucos eu fui tirando peixe e hoje eu como ovo e tomo leite, estou no caminho de diminuir as duas coisas, mas por enquanto me sinto muito bem assim.”
A analista de Marketing conta que até mesmo antes de ser vegetariana já consumia proteínas vegetais (whey) – “Ser vegetariano não é só comer batata, não é só comer carboidrato. Eu amo a dieta que eu tenho, eu como arroz, feijão, grão de bico. Acho que aos poucos a gente vai entendendo como fazer as substituições”.
“Vegetarianos precisam necessariamente tomar suplementos vitamínicos” – MITO
A suplementação não importa se a pessoa é onívora ou vegetariana, ela pode ser uma necessidade para qualquer pessoa. “Algumas pessoas têm deficiência crônica de absorção mesmo ingerindo os nutrientes”, esclarece Moema. Para os vegetarianos, é preciso escolher os alimentos dentro da dieta que suprem as necessidades nutricionais do organismo. Os vegetarianos, sem uma dieta balanceada, tendem a apresentar um déficit na ingestão de B12, ácido fólico e ferro. A vitamina B12 normalmente precisa ser suplementada. Para o ferro, pode-se optar por couve, espinafre e feijão, por exemplo.
“Comida vegetariana é muito cara” – MITO
Moema explica que a indústria alimentícia se aproveita da tendência orgânica/plant based que o mundo passa e da necessidade percebida pelos consumidores de comer menos carne e oferece alimentos vegetarianos/veganos industrializados caros – “A dieta vegetariana, muito pelo contrário, têm muito mais vegetais, cereais e grãos, o que torna a alimentação mais barata.”
“Vegetarianismo na infância atrapalha o desenvolvimento” – MITO
Porém, com uma ressalva: uma criança que desde a barriga recebe uma alimentação vegetariana, a depender da genética dos pais, tende a ter um desenvolvimento ósseo e muscular um pouco mais lento. A nutricionista explica que uma alimentação vegana/vegetariana é a melhor forma de crescimento a nível celular, muscular e ósseo pois estimula um crescimento natural dos tecidos. “Na verdade, em alimentações tradicionais, as pessoas são super desenvolvidas pela ingestão de alimentos ricos em hormônios e outras substancias que estimulam o crescimento mais rápido de todos os tecidos, não sendo saudável.”
“Atletas de alto rendimento não podem ser vegetarianos” – MITO
Dra. Moema conta que existem diversos atletas veganos/vegetarianismo de alto rendimento, como o vegano Patrik Baboumian, considerado um dos atletas mais fortes do mundo – “Existem diversos estudos que analisam sangue de atletas vegetarianos e onívoros que apontam que o atleta vegetariano tem o sangue menos inflamado. Quanto menor a inflamação, mais força é desenvolvida nas articulações e nos músculos. A questão de condicionamento físico não depende do tipo da proteína ingerida (vegetal ou animal), mas sim do tipo de treinamento e da dedicação do atleta que a modalidade praticada exige. Como a proteína vegetal é menos inflamatória, auxilia no desenvolvimento articular e muscular do atleta.”
Marina tem um estilo de vida fisicamente ativo de maneira intensa – encaixando em sua rotina beach tennis, futevôlei, corrida, yoga e surf – e afirma que seu rendimento melhorou com o vegetarianismo – “O vegetarianismo me deu muita leveza para eu me manter ativa, eu não senti que meu rendimento caiu, muito pelo contrário. Óbvio que eu tenho uma alimentação regrada, acompanhada por um nutricionista, que sabe da minha rotina, dos meus exageros, da minha necessidade calórica diária, mas a gente conseguiu chegar em uma alimentação super equilibrada.”
Mas afinal, como dar os primeiros passos para o veganismo?
O processo gradual é uma das melhores opções para quem quer consumir menos carne. Você pode começar com um dia da semana sem carne, participando do cada vez mais aderido “no meat monday”, por exemplo. Tirar da dieta diferentes tipos de carne gradativamente também pode ajudar para que o processo não seja brusco, fazendo com que você desista. “Comecei tirando as carnes aos poucos e sentindo os efeitos sobre o meu organismo e com o tempo fui me entregando, começando entender os impactos do consumo de carne sobre o meio ambiente e sobre a própria vida animal. Acho que para você realmente entender como substituir os alimentos de maneira saudável, você tem que se dedicar e ir além do que as pessoas falam.”, conta Marina.
O processo alimentar da analista de Marketing foi gradual e ainda passa por avanços – “Já pensei em excluir tudo de origem animal ou que envolvesse processos e testes em animais. Hoje na nossa indústria é possível, cada vez mais a gente tem mais soluções e opções veganas, mas eu ainda não estou preparada para esse passo, essa transição ainda é um processo em curso para mim.”
Para entender mais sobre o assunto, indicamos o documentário Seaspiracy (disponivel no Netflix) e o TED-ed “Why I’m a weekday vegetarian” de Graham Hill abaixo.
Fontes texto: Vegan Business – The New York Times destaca o vegetarianismo no Brasil
Fontes Infográficos: Vegan Business (Vegetariano e vegano: qual a diferença? ; Veganismo no Brasil: como funciona); Sociedade Vegetariana Brasileira ; Hypeness